Vi um dia antes ao tão sonhado evento, a entrevista coletiva de alguns de nossos ídolos, lá onde seriam realizadas as lutas. Nossos atletas eram questionados por pessoas da platéia, alguns lutadores, amantes do esporte, jornalistas, público em geral... Mas de maneira informal. A galera perguntando de cerveja na mão e clima de amizade. No meio de varias perguntas sobre prognósticos e resultados, um cara fez uma pergunta que eu, se tivesse a oportunidade, faria: "Como fazer a torcida se comportar de maneira educada, pois tratava de um evento, mas de artes marciais?"
As respostas que ouvi de nossos campeões, me pareceram, desculpe a opinião de fugir do foco. Pareceu-me que eles responderam sobre torcidas e brigas na rua (nosso campeão Royce Gracie falou que nunca brigou, José Aldo, que veio do futebol, falou que entrava em conflito constantemente nos jogos e parou após entrar no Jiu-Jitsu). Legal, mas não era essa a pergunta. Na minha opinião, a resposta ainda não foi debatida, pelo menos como eu gostaria, então vamos lá. Pelo que eu entendi, o torcedor se referia à educação mesmo e não briga de torcida. Nossos lutadores responderam bem, mas não tocaram na ferida, e que no meu ver, teve ponto negativo e que passou batido pela maioria.
Sou praticante de Judô desde criança, competidor, tentei seleção, foi minha base. Meu Sensei, jamais deixou eu reclamar de juiz, dizendo que havia sido roubado. Se não desse um Ippon, que eu desse jeito de dar outro. Nos campeonatos da Federação Gaúcha, ao menor sinal de vaia o evento era interrompido, seguido de lição de moral. Kiai (grito de energia), apenas na hora da técnica, nada de grito de gol ou a encrenca vinha na beira do shiai-jo, na forma do próprio professor manifestando insatisfação. Fui criado assim, no estilo oriental. Perdeu, ganhou, vai lá... Cumprimenta e agradece o embate. Pratico e acompanho o MMA ou antigo Vale Tudo desde que sou criança. Lutei os primeiros MECA e acompanhei os UFC’s , K1 e Pride desde o inicio de suas criações. E posso garantir, JAMAIS Wanderlei Silva, Anderson, Francisco Filho ou Minotauro foram vaiados pelos nossos amigos da terra do sol nascente. Quem acompanha esses eventos, assistia a um evento de publico exigente e conhecedor do esporte, que aplaudia muito e incentivava seus atletas, mas jamais depreciavam seus adversários. Mesmo quando nossos guerreiros se enfrentavam com ídolos locais, como Sakuraba, Maeda ou Musashi. Vou além: nossos lutadores tinham mais reconhecimento lá do que aqui, na maioria das vezes. Uma vez vi o Wand na janela do hotel no Japão, tinha um mar de gente esperando aceno dele... Veio aqui na paulista, o Pânico perguntava quem era ele e a galera: "jogador de futebol?"
Por isso mesmo, por um lado fiquei feliz de não ter ido à arena aquele dia, preferindo ver em casa na companhia de amigos. "Hi, roubaram o boné do Minota!" Falou um amigo meu... Falei pro japonês tomarem cuidado pelo Twitter, mas acabaram roubando o Anderson! Caramba, levaram de "souvenir" a quepe do campeão. Pode...? Maneiro...? E os copos de urina, jogados nos lutadores estrangeiros? Lembra alguma coisa nos estádios? E tome vaia pros atletas rivais. E de-lhe chamar o juiz de ladrão. Torcedor em estádio de futebol, extravasa energia. Ao chamar o juiz de filho da puta, tá xingando o chefe dele. Quando diz que o jogo ta uma merda, ta se referindo na real vida dele mesmo.
Arte marcial é diferente. Os atletas, senhores e senhoras, geralmente têm uma historia de superação fantástica, família, filhos e mulher. Tomam muito mais porrada nos treinos do que no dia do show. Treinam quebrados, com dor, e no caso dos brasileiros, às vezes sem dinheiro, comida ou lugar descente pra morar. Na maioria das situações, fogem da pobreza e da violência pelo esporte, sonham um dia lutar na gringa. Ganham entre 500 e 2000 Reais em media em eventos pelo Brasil, pra divertir aristocrata sedento de sangue. Merecem respeito, brasileiros ou estrangeiros. Nós, praticantes, saudamos nossos adversários ao final da luta, e compreendemos a dificuldade e a crueldade da nossa vida em cima do tatame, ringue ou cage. Devemos educar e dar o exemplo de bom comportamento, dentro e fora dos ringues.
Luta Não é FUTEBOL, e por isso mesmo devemos separar as coisas (não estou falando de vestir a camiseta e representar um clube de futebol, acho isso ótimo) pode torcer, usar camiseta, mas as atitudes devem mudar. Isso vai refletir em apoio, patrocínio, credibilidade, notoriedade, simpatia do publico. Pessoas ligadas à mídia marrom, formadores de "pitacos" desinformados e preconceituosos, não sabem diferenciar o joio do trigo e a galera da onda vai atrás. Acham que MMA é briga de gangue, de torcida organizada, violência, briga de rua, lugar de má índole... Não sabem que quem luta, não briga. Que professor decente preza pelo respeito e crescimento do esporte. Que gangue da imprensa marrom, que nossos atletas nos dão mais orgulho que a seleção brasileira de futebol... Que o esporte que mais cresce no mundo, e que vaias não são bem vindas. Podemos aproveitar esse momento para darmos nossa contribuição em alguma mudança positiva. Lutadores sabem na própria carne o valor da honra, da humildade, da amizade e da compaixão. Que as lutas mais importantes travadas, continuem sendo as com nossos próprios demônios, que habitam nossos corações. Paz sempre. luta, somente dentro do cage e enquanto o arbitro não encerrar... Depois, paz de novo!
Ou nada que meu Sensei me ensinou tem sentido...? Da próxima vez, pense antes de vaiar.
Abrx #tamojunto
Marcelo Dourado
Força & Honra |
eh..vc eh um guerreiro.... congratulations pelo seu texto!!!
ResponderExcluirParabéns pelo belo texto! Sou uma grande admiradora da arte suave, meu filho tem 14 anos e é bicampeão de jiu-jitsu, aqui em casa respiramos a arte suave. #tamojunto Ossss
ResponderExcluirAh!campeão você deu uma aula explicando as regras do jogo.Realmente não entendo nada e fico com os nervos à flor da pele quando assisto.Antes de fazermos comentários é necessário termos conhecimento para saber separar as coisa como você escreveu.Mais uma vez parabéns pelo texto brilhante.E em tempo você vai acabar fazendo eu adorar lutas.Brincadeirinha!Deus abençoe você nessa caminhada vitoriosa.Lourdes
ResponderExcluirLembrei das vaias e dos gritos contra os adversário durante os jogos panamericanos, constrangedor. Falta educação mesmo, inclusive no futebol, embora obviamente a dinâmica e a relação com as torcidas seja outra.
ResponderExcluirQuanto aos pitacos nem tem o que comentar, certa facção da midia cumpre bravamente o dever de...desinformar!
Ótima a conclusão do texto, ainda temos muito a aprender.
Adorei o texto! Fiquei com vergonha daquelas vaias todas, fora as partes que eu não pude ver em casa, mas que saiu na midia, como esses objetos que lançavam nos adversários..Respeito é a coisa que mais me dá orgulho de ver..Felizmente nossos atletas fizeram a parte deles e mostraram bastante respeito aos adversários, principalmente Minotauro e Edson Júnior. Esperança de quem um dia isso mude e essas torcidas covardes de futebol não invadam as arquibancadas do MMA, confundindo as coisas..
ResponderExcluirQuero te parabenizar por seu texto e pelas palavras ditas com muita propriedade ,infelizmente Dourado nossa sociedade vive inversão de valores,está se formando uma geração sem limites.Os valores familiares e de boa conduta q teus pais te passaram e que os meus me ensinaram ,há muito foi esquecido ,mas é muito bom q uma pessoa como vc se posicione,e tente mostrar esses valores ,que vale tanto para o esporte como para a nossa vida ! bjoss e parabens !!
ResponderExcluirMuito interessante o texto e não vale comente pros críticos mal informados mas também a nós que queremos ingressar no esporte, assim como eu que cada vez mais admiro o Jiu-Jitsu sem mesmo ter praticado. Em tempo esse texto me ajuda à refletir melhor sob algumas atitudes e me abre a mente para o bom e velho senso crítico e não nos deixarmos entrar na onda de faladores que se aham os donos da razão. Muita paz #tj abrx
ResponderExcluirTive a oportunidade de assistir ao vivo la na Arena da Barra. Concordo que jogar as coisas no octogon é lamentável. Nao da pre entender o que se passa no cérebro do sujeito que faz isso.
ResponderExcluirAgora quanto ao clima de futebol, não existe a possibilidade de ficarmos em silêncio. Nós brasileiros estamos sempre sorrindo. Sorrimos para a corrupção, sorrimos para tudo que é errado. No UFC Rio, na entrada o Paulo Thiago nao tinha como ficar em silêncio como faziam os japoneses na época do (ótimo) Pride. No Pride, quando a luta ia pro chão, TODAS as pessoas ficavam em silêncio o tempo que for. Fora do oriente isso muda completamente. São culturas distintas que infelizmente não somos nem um pouco parecidos. Eu gritei muito, estou sem voz até hoje e digo: ja fui em varios jogos ao vivo do meu time, mas nada se compara a ver o UFC ao vivo.
Parabens pelo texto e pela opinão.
eu fui lá e não vaiei ninguém mas achei valida as vaias para os adversários ,com certeza a pressão dos brasileiros foi fundamental para as vitórias , roubar boné e tacar coisa no dojo que é inadimissivel mas isso é questão de educação .. seja no brasil ou lá fora
ResponderExcluirExcelente texto bro. Reflete muito próximo de um resumo oficial dos esportes de luta no Brasil. Brasileiro transforma em algazarra o que o mundo (principalmente no oriente) trata como demonstração de honra e respeito mútuo. E quem assiste pela tv acha bacana... Vou acompanhar o blog sim. Abs e #tamojunto #BJJ
ResponderExcluirFalou tudo, Dourado. Muito bom o texto.
ResponderExcluir"E de-lhe chamar o juiz de ladrão. Torcedor em estádio de futebol, extravasa energia. Ao chamar o juiz de filho da puta, tá xingando o chefe dele. Quando diz que o jogo ta uma merda, ta se referindo na real vida dele mesmo."
Adorei esse insight.
é isso ai, fui criado com esta disciplina tambem e agradeço até hoje ao meu sensei e meu pai por terem me dado esta oportunidade. Oss.
ResponderExcluirUFC sempre existiu e ninguém falava nada.Agora que o esporte está mais famoso e tem mais seguidores pipocam "criticos" que dizem querer entender o esporte.Pq só fizeram isso ao ver que o UFC tem bastante adeptos? Com demonstração de superioridade bem detestáveis,alguns "jornalistas esportivos" vociferam contra sem sequer procurar se informar.Desconhecem que os primeiros UFCs(vencidos pelo Royce Gracie) serviram justamente para comprovar o predomínio da técnica sobre a força bruta. O vale-tudo tem muito mais técnica envolvida que o boxe. Parabéns pelo texto Dourado.Creio que o sucesso do UFC é inquestionável.Se for verdade que a Globo está tentando tirar o evento da rede tv,não irei me surpreender se encontrar esses mesmo "jornalistas" pagando pau para um evento global.
ResponderExcluirSobre as vaias,só tenho a lamentar mas,infelizmente,boa parte do público ainda precisa de uma boa dose de civilidade.
Eva_hewson
"E de-lhe chamar o juiz de ladrão. Torcedor em estádio de futebol, extravasa energia. Ao chamar o juiz de filho da puta, tá xingando o chefe dele. Quando diz que o jogo ta uma merda, ta se referindo na real vida dele mesmo."
ResponderExcluir-psicologia barata ,generalização idiota
Belo texto. O torcedor brasileiro precisa entender como se comportar em competições como artes marciais, atletismo, ginástica...
ResponderExcluirSão esportes para você contemplar e torcer, e, ao final, aplaudir o vencedor.