Traduzindo do idioma japonês, o termo significa "arte ou técnica suave" (Jiu = Suave; Jitsu = Arte ou técnica). A razão do significado do termo fundamenta-se em sua filosofia, que prega o predomínio de suas técnicas de luta sobre a imposição da "força bruta", pois prioriza o uso de princípios biomecânicos que visam otimizar a força muscular do praticante, anular a do oponente, e/ou até mesmo utilizar as valências físicas deste contra ele próprio.
Princípios como o momento, resultante vetorial e distribuição de massa, são usados nos golpes de forma a imobilizar, derrubar, neutralizar ataques, pressionar ou até mesmo estrangular, hiperextender e torcer as articulações dos adversários.
Devido às características das ações motoras no Jiu-Jitsu desportivo, e pelo fato de constituir um esporte de contato, observamos que os praticantes podem estar constantemente sujeitos as lesões decorrentes dos golpes, como também dos deslocamentos corporais dos atletas. Lesões essas que podem muitas vezes afastar os praticantes dos treinamentos e das competições, por períodos de tempo indeterminados.
PLATONOV, 2004 afirma que muitos esportistas excepcionais estão obrigados a depender mais atenção e tempo na cura das enfermidades e dos traumatismos que na própria atividade de treinamento e competição. Vários deles têm suportado gravíssimas cirurgias e gasto tempo e forças na posterior reabilitação e recuperação do nível de treinamento.
Entretanto, existe uma característica particular das modalidades desportivas de luta em comparação as demais modalidades no que se diz respeito ao risco e ocorrência de traumatismos. Podemos considerar que o risco na prática dessas modalidades pode ser muito maior quando comparado a outras, pois o objetivo principal de suas técnicas é fundamentalmente vencer o oponente colocando-o em risco de lesões (obrigando o mesmo a desistir do combate), ou então fora de ação levado-o à inconsciência (situação de nocaute).
Dessa forma, o conhecimento de uma terminologia padronizada entre professores, técnicos, atletas e membros da equipe médica proporcionam uma comunicação efetiva possibilitando descrever com maior precisão o diagnóstico do atleta em casos de eventuais acidentes nos treinamentos e/ou competições.
STARKEY, 2001, afirma que é imperativa a comunicação efetiva entre os membros da equipe médica. Essa comunicação depende do uso de terminologia padronizada e cada membro da equipe deve ser capaz de descrever com precisão o estado do atleta e os achados no exame.
Caracterização da modalidade, técnicas e possíveis lesões
As lutas desportivas pertencem ao grupo das modalidades com condições variáveis de competição e que exigem resistência específica. Sendo que o traço característico do nível desportivo nessas modalidades é a existência de um conjunto amplo de movimentos motores complexos caracterizados pelo nível de desenvolvimento da capacidade de aplicar esforços explosivos, possuindo uma certa variedade de adaptação às condições variáveis de competição. Ao mesmo tempo, é apropriado um alto nível de desenvolvimento da capacidade de resistir à fadiga sem a diminuição da eficácia das ações técnicas e táticas e dos métodos. (VERKHOSHANSKY, 2000).
A performance geral envolve capacidades e habilidades físicas como a velocidade, força explosiva, resistência de força, reatividade neuromuscular, coordenações grossa e fina, força máxima e equilíbrio. Sendo que todas elas atuam de maneiras conjuntas e influenciadas diretamente pelo estado emocional e preparação psicológica do atleta. Os componentes técnico e tático também representam fatores essenciais e determinantes na performance final. Nessas modalidades, o resultado competitivo nunca pode ser atribuído a performance de uma variável apenas, mas sim ao conjunto de todas desenvolvendo-se em harmonia. (IDE, 2004).
O Jiu-jitsu desportivo abrange uma gama de seis técnicas permitidas em competições. São elas:
- Projeções.
- Imobilizações.
- Pinçamentos.
- Chaves.
- Torções.
- Estrangulamentos.
Todas são fundamentadas em princípios biomecânicos e podem causar sérios traumas aos adversários quando aplicadas com toda sua magnitude. Somente as imobilizações constituem um grupo que não têm como objetivo levar situações de perigo ao adversário e nem provocar lesões, e que devido a esse fato, não identificamos possíveis traumatismos decorrentes des suas aplicações. O objetivo das imobilizações é impedir os movimentos mais ofensivos do oponente, segurando-o em situações de submissão.
Antes de descrevermos os traumas associados às técnicas do Jiu-jitsu desportivo, temos que relatar um tipo de lesão bastante comum também à prática da luta livre e judô. Ela não está associada a nenhuma técnica em particular, mas sim as próprias características de constante contato corporal das modalidades. WOJTYS apud SAFRAN, 2002 a denomina como hematoma auricular. O autor afirma que quase 40% dos lutadores comunicam ter algum tipo de deformidade auricular permanente. Nesse caso de traumatismo auricular, o sangue acumula-se entre o pericôndrio e a cartilagem. Nova cartilagem se forma a partir do firme envoltório pericondrial, levando à deformidade da aurícula (a chamada "orelha de couve flor").
A seguir apresentaremos os possíveis traumas que podem ser associadas à aplicação das mais comuns, e também mais utilizadas técnicas do Jiu-jitsu desportivo.
Projeções
A projeções visam desequilibrar e derrubar o adversário projetando-o em direção ao solo, para que a partir desse momento o combate desenvolva-se no chão.
ITAGAKI, 2004 relatou em seu estudo uma lesão aos rins associados à aplicação de técnicas de projeção em treinamentos. O paciente apresentava após a queda, um ponto doloroso no lado esquerdo do tronco e urina com coloração avermelhada, indicando uma possível lesão ao rim devido ao amortecimento mal realizado e o violento impacto com o chão.
FRANÇA, 2001, afirmou que as projeções podem ocasionar fraturas no processo odontóide, divididas em 3 tipos:
Tipo 1: fratura do ápice do processo odontóide.
Tipo 2: fratura através do corpo do processo odontóide.
Tipo 3: fratura da base do processo odontóide.
Tipo 2: fratura através do corpo do processo odontóide.
Tipo 3: fratura da base do processo odontóide.
Possíveis lesões relacionadas às técnicas de projeções associadas a múltiplas estruturas musculares e articulares:
- Estiramentos de primeiro a terceiro grau.
- Entorse de primeiro a terceiro grau.
- Subluxação articular.
- Luxação articular.
- Sinovite.
- Defeitos osteocondrais (DOCS).
- Fraturas.
- Fraturas articulares.
Pinçamentos
Os pinçamentos são ataques que objetivam pressionar estruturas musculares e centros nervosos dos adversários. Num primeiro momento provocam extrema dor e fazem com que o adversário recue de seus ataques. Os mais comuns e utilizados são os que pressionam a tíbia do atacante contra os músculos bíceps braquial e tríceps sural do oponente (chamados de "chave de bíceps" e "chave de panturrilha").
As lesões a essas estruturas dependem da magnitude da força aplicada pelo praticante e podem constituir estiramentos de primeiro a terceiro grau.
Chaves
Ataques a estruturas articulares que visam suas imobilizações e extensões além das respectivas amplitudes de movimento. As chaves mais utilizadas são as que hiperextendem as articulações do cotovelo e do joelho, conhecidas como "Arm lock" e "Leg lock".
GARCIA, 2004, afirma que o "Arm-lock" pode levar a uma diminuição da amplitude de movimento e dor, pois o movimento feito de forma violenta, ou com repetição contínua, pode causar uma cicatrização da cápsula dentro da articulação do cotovelo, e lesão com cicatrização muscular na sua porção anterior.
De maneira geral as duas técnicas podem ocasionar traumas do tipo:
- Estiramentos de primeiro a terceiro grau.
- Entorse de primeiro a terceiro grau.
- Subluxação articular
- Luxação articular
- Fraturas articulares
- Defeitos osteocondrais (DOCS)
Torções
As torções também constituem ataques a estruturas articulares, mas que visam submetê-las a amplitudes de movimento além das suportadas pelas mesmas. As principais técnicas são as que atacam as articulações do ombro ("Americanas" e "Omoplatas"), do tornozelo ("Americana de pé" e "Chave de pé reta"), e a porção cervical da coluna vertebral ("Cervical"). Todas podem ocasionar traumas do tipo:
- Estiramentos de primeiro a terceiro grau.
- Entorse de primeiro a terceiro grau.
- Subluxação articular
- Luxação articular
- Fraturas articulares
- Defeitos osteocondrais (DOCS)
- Tetraplegia (somente para "Cervical").
As lesões cervicais também podem causar danos neurológicos, viscerais e de grandes vasos. Danos neurológicos podem ser identificados e terem sido causados por secção, contusão, compressão e isquemia medular. A fratura de C1 ("de Jefferson") é uma fratura estável que ocorre com o impacto do anel de C1 contra os côndilos occipitais. Pode ocorrer por uma sobrecarga axial no topo da cabeça. (FRANÇA, 2001).
Estrangulamentos
Visam interromper o fluxo de ar para os pulmões e/ou sanguíneo para o cérebro. Apresentam um tipo de lesão ao lutador que não são encontradas em nenhuma outra manifestação desportiva. Eles proporcionam traumas que são unicamente conseqüentes das técnicas das lutas e artes marciais.
Por definição, estrangulamento é a asfixia mecânica onde ocorre uma constrição do pescoço, causando embaraço à livre entrada de ar no aparelho respiratório feito por meio de um laço acionado pela força muscular da própria vítima, ou de um estranho, (FRANÇA, 2001). No caso do Jiu-jitsu desportivo o laço pode ser feito com auxílio do Kimono (roupa apropriada para a prática)
Possíveis lesões (FRANÇA, 2001):
- Morte - pelo impedimento da penetração do ar nas vias aéreas; por morte circulatória devido à compressão dos grandes vasos do pescoço que conduzem para o cérebro; por morte nervosa do mecanismo reflexo (inibição vagal).
- Equimoses de pequenas dimensões na face, nas conjuntivas, pescoço e face anterior do tórax.
- Infiltração hemorrágica em tela subcutânea e musculatura subjacente ao sulco.
- Rupturas musculares.
- Fraturas e luxações das vértebras cervicais.
FONTE: efdepotes.com
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